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Doença de Chagas

           A doença de chagas foi descoberta em 1909 por Carlos Chagas, na cidade de Lassance em Minas gerais. Carlos Chagas era médico e pesquisador assistente do Instituto Oswaldo Cruz e sozinho identificou o vetor e o agente etiológico (Trypanosoma cruzi) da doença, fazendo história na medicina (CHAGAS, 1909).

           A transmissão mais comum desta doença e a vetorial, na qual o triatomíneo (popularmente, conhecido como barbeiro) ao realizar seu repasto sanguíneo deposita juntamente com suas fezes o protozoário Trypanosoma cruzi, que penetra na pele do indivíduo alcançando a corrente sanguínea (NEVES, 2011). O indivíduo infectado por essa via pode apresentar sinais de porta de entrada aparente como o sinal de Romanã (edema ocular bipalpebral unilateral) e o chagoma de inoculação, que podem permanecer por cerca de 2 a 4 meses (PEREIRA; MARCOS; BOAINAIN, 1989; SARMENTO, 2008). Além desta, existem outras formas de transmissão da doença como a transmissão oral, pela ingestão de alimentos contaminados; transmissão transplacentária (da mãe para o feto); transfusão sanguínea; acidentes de laboratório; e por transplante de órgãos (TORPY et al., 2007; BERN, et al., 2007).

        A doença de chagas possui duas formas clínicas a fase aguda e a fase crônica. A fase aguda geralmente é inaparente, com manifestações clínicas diversas tais como febre, edema, hipertrofia dos linfonodos, hepatomegalia, esplenomegalia e em casos mais graves a insuficiência cardíaca (DIAS; COURA, 1997; ASSIS, 2011).

          A fase aguda evolui naturalmente para a fase crônica, esta se caracterizada pela dificuldade de detecção do parasito no sangue periférico, devido à baixa parasitemia, ausência de manifestações clínicas, desaparecimento progressivo de IgM e elevação dos anticorpos específicos da classe IgG, o que dificulta o diagnóstico. Esta fase se subdivide em cinco formas clínicas distintas: indeterminada, digestiva, cardíaca, mista e nervosa (ASSIS, 2011).

         O diagnóstico da doença em sua fase aguda é realizado através de exames parasitológicos como exame a fresco, gota espessa, esfregaço corado (CAMPOS, 2003) determinando a presença de parasitas circulantes. Também são utilizados exames imunológicos quando associados a fatores clínicos e epidemiológicos compatíveis, verificando a presença de anticorpos IgM anti-T. cruzi no sangue. A fase crônica é diagnosticada com a presença de anticorpos IgG anti-T.cruzi  detectados por dois testes sorológicos de princípios distintos  como Imunofluorecência indireta, hemaglutinação indireta e o ensaio imunoenzimático (ELISA); estes são os testes sorológicos mais utilizados (BRASIL,2010).

           Os medicamentos existentes para o tratamento da Doença de Chagas são o Nifurtimox e o Benzonidazol, porém, no Brasil o único fármaco disponível para o tratamento é o Benzonidazol (CASTRO et al, 2006; GONTIJO et al, 2009; VIOTTI et al, 2006).  A dose utilizada é 5mg/kg/dia e o tratamento dura em média três meses.

          O tratamento tem como objetivo a eliminação do T. cruzi, a fim de diminuir progressão da doença e interromper a cadeia de transmissão do parasito (SOSA-STANI; VIOTTI; SEGURA, 2009; MENEZES et al., 2011). Sendo indicado para todas as pessoas diagnosticadas com a infecção aguda, casos de infecção congênita, crianças na fase crônica, contaminação acidental e em casos de pacientes imunodeprimidos (WHO, 2010). O tratamento também pode ser instituído na fase crônica recente, período de cinco a doze anos da infecção inicial, na fase crônica tardia, acima de doze anos da infecção inicial, na forma indeterminada e nas formas cardíacas e digestivas leves. (CONSENSO, 2005).

 

Referências bibliográficas:

  • ASSIS, G. F. M. Avaliação laboratorial e clínica de indivíduos chagásicos tratados com o benzonidazol e não tratados residentes no Município de Berilo, Vale do Jequitinhonha, MG. 2011. 146 f. Tese (Doutorado em Ciências Biológicas, área de concentração Imunologia de protozoários). Universidade Federal de Ouro Preto, 2011.
  • BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Doenças infecciosas e parasitárias: guia de bolso. 8. ed. rev. Brasília, 2010.
  • BERN, C et al. Evaluation and treatment of Chagas’ disease in the United States: a system­atic review. JAMA, 2007;298:2171-2181.
  • CAMPOS, S. Diagnóstico Laboratorial na Doença de Chagas. 2003. Disponível em: <http:// www.drashirleydecampos.com.br>. Acesso em: 29. abril. 2014.
  • CASTRO, J.A; MECCA, M.M; BARTEL, L.C. Toxic side effects of drugs used to treat Chagas’disease (American Trypanosomíasis). Hum Exp Toxicol; 25:471-479, 2006.
  • CONSENSO BRASILEIRO EM DOENÇA DE CHAGAS. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. Secretaria de vigilância em saúde do Ministério da Saúde, v. 38, supl. III, 2005.
  • CHAGAS, C. Nova tripanozomiaze humana: estudos sobre a morfolojia e o ciclo evolutivo do Schizotrypanum cruzi n. gen., n. sp., ajente etiolojico de nova entidade morbida do homem. Mem. Inst. Oswaldo Cruz, Ago, vol.1, no.2, p.159-218.1909.
  • DIAS, J. C. P.; COURA, J. R. Clínica e terapêutica da doença de Chagas: uma abordagem prática para o clínico geral. 1a ed. Rio de Janeiro, Ed. FIOCRUZ, c. 3, p. 33-65, 1997.
  • GONTIJO, E.D; GALVÃO, L.M.C; ELOI-SANTOS, S. Chagas Disease: Criteria of Cure and Prognosis. Mem Inst Oswaldo Cruz 2009; 94:357-362.
  • MENEZES, C et al. Clinical aspects of Chagas disease and implications for novel therapies. Drug Development Research, v.72, n.6, p. 471-479, 2011.
  • NEVES, D. P et al. Parasitologia Humana. 12. ed. São Paulo: Atheneu, 2011.
  • PEREIRA, V. L.; MARCOS, A. A.; BOAINAIN, E. Xenodiagnóstico, Hemocultura e teste de lise mediada pelo complemento como critérios de seleção de pacientes chagásicos crônicos para quimioterapia. Revista do Instituto de Medicina Tropical, São Paulo, v.31, p. 301-307, 1989.
  • SARMENTO, R. R. Interação do Tripanosoma cruzi com células da resposta imune inata. 2008. 74f. Dissertação (Mestrado em Patologia Clínica). Universidade Federal do Triângulo Mineiro, Uberaba, MG.
  • SOSA ESTANI, S.; VIOTTI, R.; SEGURA, E. L. Therapy, diagnosis and prognosis of chronic Chagas disease: insight gained in Argentina. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, v. 104, supl. 1, p. 167-180, 2009.
  • TORPY, J.M; BURKE, A.E; GLASS, R.M.  Cha­gas disease. JAMA, v. 298, n. 18, p. 2222, nov. 2007.  Disponível em: <http://jama.jamanetwork.com/collection.aspx?categoryid=6258>.  Acesso em: 10 abril 2014.
  • VIOTTI, R et al. A. Long term cardiac outcomes of treating chronic Chagas disease with benznidazole versus no treatment: a nonrandomized trial. Annals of Internal Medicine, v.144, p. 724-734, 2006.
  • WHO, World Health Organization. 2010. First WHO Report on Neglected diseases: working to overcome the global impact of neglected tropical diseases. Disponível em: <http://www.who.int/neglected_diseases/2010report/en/>.  Acesso em: 29. abril. 2014.